O chamado Circuito Histórico é a principal atracão da Etiópia. Ao contrario da maioria dos países africanos, a natureza e praia aqui ficam em segundo lugar (na verdade eles tem ótimos parques nacionais, montanhas e, tribos).
Já tínhamos ido para o Mercato, bairro muçulmano de onde saiam os ônibus, portanto foi só acordar cedo para pegar o ônibus sentido Dahir Dar, nosso primeiro destino. Agora alem do horário (usam o relógio das 6 as 6, assim como o ki-swahili time) tínhamos que prestar atenção nas datas diferenciadas. Ônibus 03/01/2002 as 11 horas, na verdade é as 5 da manhã em setembro de 2009…
Ônibus simples, com poltronas que não reclinam. Saiu no horário, pois era o primeiro ônibus, e saem quando ficam cheio. Dormi e acordei algumas horas depois, com o ônibus ziguezagueando. Estávamos no topo de um cânion, com uma vista impressionante. O ônibus ia devagar, mesmo a estrada sendo de asfalto de qualidade. Eram muitas curvas para contornar tanta montanha. O interior da Etiópia surpreendeu desde o primeiro dia. Nada lembra aquelas cenas que todos tem na memoria do problema da fome de 84/85. Tirando as regiões de deserto, localizadas no sul e no leste, a Etiópia e verde, muito verde. E também muito montanhosa. Parece que 50% das áreas do continente africano ficam acima de 2000 m de altitude e, 80% acima de 3000 m estão na Etiópia.
A viagem que ja era longa se prolongou um pouco mais por causa da queda de uma barreira. Sem problemas, saímos do ônibus e ficamos curtindo o visual. Passamos por muitas montanhas, belas paisagens ate chegar em Bahir Dar. Bonita cidade, com uma larga avenida com suas palmeiras, na beira do lago Tana. Não foi muito difícil de achar um bom e barato hotel. Depois correr para um cafe para comer alguma coisa, aproveitando o movimento do final de tarde.

Paisagem

Queda de barreira

Bahir Dar
Dormimos cedo porque o dia seguinte seria longo. Saímos para pesquisar os preços dos barcos que levam ate os monastérios do lago. Como variavam bastante não fechamos nada, mas pelo menos já tínhamos uma ideia. Pegamos uma van até Tis Abay, onde fica uma cachoeira no chamado Blue Nile. A cachoeira não e muito longe da pequena vila, e e claro que fomos acompanhados por dezenas de crianças que nos cercaram. A cachoeira é bonita, mas muito menor que a que aparece na nota de 1 birr. Isto acontece porque criaram uma barragem, e as quedas foram desviadas. Hoje só 20% das quedas ainda existem.

No caminho da cachoeira

Blue Nile falls
No retorno tivemos que esperar um bom tempo até aparecer um ônibus. Um cara ofereceu ajuda, falou que trabalhava para o ônibus. Quando abriu a porta, a fila desapareceu, e todos se empurravam para entrar no ônibus. Não tive outra opção a não ser entrar na briga. Depois de muito empurra empurra consegui entrar. Quando vi, lá estava o cara sentado, guardando lugar para gente. Como nada é de graça queria vender o lugar. Falamos que iriamos de pé, ele não gostou muito, mas acabou que não tivemos que pagar.
De volta a Bahir Dar acertamos o barco com uma das pessoas que pegamos o telefone. Conseguimos um bom preço, depois de muita pechincha. Insistiram que pagássemos antecipado. Não gostamos muito da historia, mas acabamos pagando metade. Dia seguinte esta pessoa que acertamos tudo liga dizendo que não vai poder nos buscar no hotel, mas para irmos ate o Ghion Hotel. Falou que era para pagarmos a diferença la, o quanto eles pedissem. Não estava cheirando bem. Insistimos para que alguém fosse nos buscar, mas como demoraram acabamos indo no hotel. Falaram que não conheciam o cara que vendeu o passeio, que deveríamos chamar a policia e tal. Parecia meio armação. Chamamos a policia, fomos dar queixa e tudo parecia ainda mais estranho. Quando falamos que queríamos dar uma queixa oficial, só nos passaram um sulfite em branco. Logo depois o Hotel nos ofereceu o passeio de graça. Acho que não imaginavam que iriamos levar o caso adiante.
Junto foi um espanhol, alem de um Servio e um polonês Rastafaris. Visitamos algumas pequenas ilhas, onde estão os monastérios da igreja ortodoxa etíope. Existem dezenas deles, mas já faz tempo que aprendi que não da para ver tudo. Em cada ilha o monge nos recepcionava e nos mostrava as gravuras, cruzes e contava a historia do lugar. São relativamente simples, mas de uma grande riqueza cultural. Pinturas mostravam um Jesus negro, bem mais realistas, pela região onde ele nasceu. Lugar de muita paz, e excelente para reflexão.

Dentro do monastério

Detalhes

pinturas
O Sérvio que estava com a gente é musico e tocou algumas musicas com o Soufly (Max ExSepultura), e como é rasta perguntei se conhecia alguma banda de Reggae do Brasil. Ele rapidamente respondeu, conheci o pessoal do Djambi num festival na Servia. Porra, Djambi, de Curitiba, que tantas vezes escutei na ilha do mel. Caí na risada. O mundo é pequeno mesmo.
Esta região onde viviam os Judeus etíopes. Algumas famílias ainda permanecem. Israel “resgatou” milhares de pessoas em duas gigantescas operações. A primeira foi em 1984, e foi chamada Operação Moises. O governo comunista não autorizou a saída dos judeus etíopes (chamados de Falashas) do pais, e Israel fez um plano de fuga onde milhares de pessoas foram caminhando ate o Sudão, e de la levadas para Israel. Em 1991 teve a operação Salomão. Desta vez o governo queria que Israel pagasse pelos Falashas. Mais milhares de pessoas foram levadas para Israel numa operação noturna, desta vez utilizando aviões, saindo da Etiópia. Parentes do meu anfitrião de Addis saíram da Etiópia desta forma.
Voltando resolvemos levar o caso do dinheiro adiante. Tínhamos pagado muito menos que todo mundo, mas para complicar a vida do “fugitivo” falamos que tínhamos pagado tudo (que era menos que muitas pessoas pagaram). Soubemos pelo espanhol que ele comprara da mesma pessoa, que deu confusão também, e que encontrou este cara no Ghion hotel. Era tudo armação. Fomos na policia do turista e demos uma queixa, desta forma foi possível pegar uma van para Gonder tranquilamente, sem que alguém questionasse que não pagamos.
A viagem ate Gonder foi rápida, poucas horas. Lá tivemos mais dificuldade de achar um hotel bom e barato. Optamos pelo barato. Também não foi fácil de escolher entre um dos excelentes Cafés. As ruas estava cheias, alias os etíopes adoram sair. Não nos prorrogamos muito pois o próximo dia seria longo.
Gonder já foi a capital da Etiópia. Seus castelos, devidamente murados eram o centro politico do país no seculo 17. O principal castelo fica bem no meio da cidade. Muito bonito e imponente. Está clara a influencia que a Etiópia recebia de outros continentes, este tipo de construção era muito avançada para a época. Um pouco mais afastada fica uma “piscina” gigantesca onde milhares de pessoas eram batizadas ao mesmo tempo. Visitamos também uma igreja Ortodoxa que fica no topo de uma montanha. Estava tento missa então não pudemos entrar, mas foi legal ver a movimentação do lugar. A Igreja Ortodoxa transmite suas missas com um auto-falante, assim como as mesquitas costumam fazer. Caminhando pelos castelos ao lado da igreja, passei por um enxame de abelhas e uma me picou. Me estapeava para tirar as outras que ficaram presas na minha camiseta quando um senhor se aproximou, ele falou para eu esfregar a picada, colocar o dedo no nariz e passar na picada novamente. E a simpatia deles. Não sei se funciona, pois inchou, mas vai que seria pior se eu não tivesse feito…haha

Castelo de Gonder

Mais castelos

Ruínas próximas da igreja

Igreja Ortodoxa
Final de tarde tinha lugar marcado. Café de um hotel no topo da montanha mais alta, com vista para os castelos.

Vista panorâmica de Gonder
Diziam que demora 2 dias de Gonder até Axum de ônibus. Em vez de irmos para a rodoviária fomos para o estacionamento de caminhões. Tivemos que arranjar um interprete, pois todos os motoristas só falavam Amarico. Combinamos de sair cedo, só nos dois e o motorista na cabine. O ajudante iria na cama atras da cabine. Tudo certo para a viagem direta até Axum.