Panamá, muito mais que um canal.

Não adianta, quando se fala do Panamá, a primeira coisa que vem na cabeça é o famoso Canal do Panamá, que liga o oceano atlântico ou pacífico. Construído no final do seculo 19, acabou ficando pronto só em 1914. Fans de grandes obras de engenharia podem discordar, mas ao chegar na Cidade do Panamá, não teve uma pessoa que visitou o canal que estava empolgada com o que viu. O conjunto da obra e sua importância é muito mais interessante do que o que se vê. O Panamá tem muito mais para oferecer.

Chegando no Panamá, fomos direto para Casco Viejo, a parte antiga da cidade. Uma das poucas partes da cidade que tem ainda tem certa autenticidade. Quando pesquisei sobre a Cidade do Panamá, li muito sobre mini-Dubai, Mini-Miami e outras comparações. Realmente existem prédios super modernos no centro, tem muito dinheiro rolando, mas a desigualdade é grande, basta passar por bairros como El Chorrillo, para ver que ainda tem muita pobreza.

O Casco Viejo esta sendo revitalizado. Como o palácio do presidente (Palacio de las Garzas) fica por ali, a região é fortemente policiada. Alguns prédios históricos reformados, e muitos caindo aos pedaços, não tem meio termo. A Bibi gostou bastante da região, eu não posso dizer que me encantei, mas com certeza melhor que a parte moderna da cidade, onde só é “mais uma cidade”.

Igreja no Casco Viejo com o coreto da praça

Igreja no Casco Viejo com o coreto da praça

Parte moderna da Cidade do Panamá

Parte moderna da Cidade do Panamá

Bem próximo de Casco Viejo, está o mercado de peixe, melhor lugar que mais gostei da Cidade do Panamá. Não muito diferente de tantos outros mercados de peixe, mas com diversas barraquinhas vendendo vários tipos de ceviche com preços de 1 a 3 USD. No Panamá, utiliza-se o USD, mas as moedas são de Balboa (moeda de dólar também são aceitas). Mas voltando as comidas, as barraquinhas ficam cheias de panamenhos, comendo, escutando musica e tomando cerveja. Não se assuste se um vendedor ambulante te oferecer ovos de tartaruga. Eles são muito apreciados por aqui. Muito temperados e apimentados, tem uma consistência estranha. Você tem que rasgar a casca, que é mole e sugar a gema e a clara. Vai se sentir um lagarto!

Ovos de tartaruga

Ovos de tartaruga

Nosso maior interesse no Panamá era o arquipélago de San Blas, na região autônoma de Kuna (Guna) Yala. Até poucos anos atrás, para chegar lá só de avião ou encarando um longo dia de viagem por estradas enlamaçadas. Agora com o asfalto, está tudo bem mais fácil. Não existe transporte público até lá, então você vai ter que entrar em contato com uma das diversas agencias para se esquematizar. É possível acertar só o transporte ou fazer um pacote completo.

Acabamos fechando com a Lam Tours. Passaram para nos pegar bem cedo, mas fomos levados para um escritório superlotado de turistas e me deu um desespero. Alta temporada, tava cheio de gente, todos tentando escolher a ilha que ficariam, querendo fazer festa. Achei que não teria sossego e me deu um grande mau humor. Será que não teria tranquilidade? Mas uma enrolação para fazer compras no mercado, levamos muitos galões de água, já que pretendíamos ficar alguns dias por lá.

Estrada bonita, com mata fechada ao lado, cheia de curvas e sobe e desce. O estilo montanha russa faz com que a viagem, apesar de não tão distante, demore umas quatro horas. Um posto de controle mostrava que estávamos entrando na comarca de Kuna Yala. Como é uma região autônoma  a partir dali o que vale são as leis indígenas. Um pouco mais para frente um rápido controle de passaportes e logo chegamos no local onde saem os barcos. São 365 ilhas, mas nem todas são habitadas. As mais próximas do continente têm vilas, mas muitas outras são habitadas somente por uma ou duas famílias.

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Nós tínhamos arranjado tudo para ficar na ilha Diablo. Apenas uma parada para abastecer em uma ilha-vila e seguimos viagem pelas águas transparentes do caribe. Ficamos muito contentes com nossa ilha, muito bonita e calma. O problema é que era uma das com menos infraestrutura, a Bibi chegou a pensar que não ficaríamos tanto tempo quanto queríamos, mas logo entrou no esquema. Se inicialmente não acertar direto com o “dono”da ilha, uma dica é de falar que vai ficar somente um ou dois dias, depois estender a sua estada. Nós fizemos isto e conseguimos o preço de camping para ficar em uma cabana que tinha até cama, um luxo! hehe “Pousada” literalmente pé na areia, já que não tem piso, desce da cama pisando na areia. Fica a poucos metros do mar azul cristalino, com uma rede na frente.

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Para dar uma volta na ilha não demoram muitos minutos, inclusive o banheiro ficava lá do outro lado. Tinha uma cabana de palha mais próxima onde tomávamos banho. Tinha um buraco com água doce onde pegávamos água com uma jarra para encher o balde.

A ilha ao lado, numa distancia onde era possível nadar, tinha um barco afundado, somente com a proa para for a. No caminho também tem uns corais com seus devidos peixinhos. Na ilha tinham poucas pessoas, e logo ficamos muito amigos, principalmente dos hermanos argentinos, muito gente boa! Altos bate papo no final de tarde. Pessoas vinham e iam, e nós fomos ficando. Um dia chegou um barco cheio de gente, e a ilha ficou lotada. Não foi só o clima que mudou, mas a qualidade da comida. Para quem tinha comido lagosta, ficar só no peixinho foi triste. rs

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O barco da ilha saia todos os dias para passeios, algumas vezes ilhas próximas e outras mais longe. Lugares para fazer snorkling, ou somente para curtir uma outra praia. Algumas enseadas estava lotadas com barcos a vela, alguns inclusive com bandeiras brasileiras.

Antes de ir embora teria que ter um grand finale. Um festival estava para acontecer, onde iriam dar o nome para duas jovens Kuna. Fomos em uma das ilhas principais, já mais perto do continente (utilizam o continente para agricultura), nada de praias bonitas. Barreiras com pedras para evitar que a água avance, e uma casa ao lado da outra, um super aproveitamento do espaço. Corredores entre as casas de madeira, conhecemos a ilha com a tradução de um holandês que casou com uma local.

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O festival acontece em um galpão central, que estava muito cheio. As mulheres, assim como nas ilhas pequenas, estavam com suas roupas típicas. Já os homens vestiam roupas comuns. Toda uma cerimonia  com homens para um lado e mulheres para o outro. Um senta e levanta, com chefes Kuna levando podes de Chincha (bebida local feita de cana de açúcar destilada e café) para frente e para trás, oferecendo para as pessoas alinhadas lateralmente. Eles também fumavam charutos de palha e baforavam a fumaça na cada de todos, inclusive de nós. Uma festa que dura cinco dias e se bebe muito. Algumas vezes passavam distribuindo presentes, que não tem nada de tradicional, pacotes com bala e cigarros.

Caminhando pela ilha pedi para tirar uma foto de uma senhora, ela levantou o dedo indicador, e eu disse, sim, só uma foto. Tirei a foto e ela falou, um dólar. Problemas de comunicação! Eles não são muito chegados em fotos, e isto já virou um comércio.

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Infelizmente fomos embora antes da musica começar, não sem antes aprender a história dos Kuna e sua relação com os EUA durante a construção do canal, o que posteriormente ajudou a conquista da autonomia da região. Chamou a atenção a quantidade de lixo plastico, como já havíamos observado em outras regiões onde o tradicional tem contato com a industrialização de uma maneira brusca. Uma pena.

Volta para a Cidade do Panamá, onde descansaríamos e depois de tantos dias tomamos um banho em um chuveiro! Saímos com nossos amigos argentinos e como estávamos com tempo sobrando, demos uma passada no Canal do Panamá. Mas foi somente um pit-stop para recarregar as energias e seguir viagem. Depois de uma noite bem dormida e um dia tranquilo, pegamos um ônibus noturno até a cidade de Almirante e depois um barco para Bocas del Toro. Estávamos na dúvida se íamos para lá ou não. É uma ilha conhecida pelo surf e pelas festas, achávamos que poderia estar cheia demais. Sabe que até que não estava. As festas rolavam madrugada a dentro, mas para quem estava em outro ritmo não chegava a atrapalhar. Só faltava ter uma bandeira da argentina proclamando território deles. Incrível a quantidade de argentinos que encontramos nesta viagem, em todos os países. Pelo menos uns 50 argentinos pera cada brasileiro.

Bocas del Toro tem mais um clima selvagem, com mangues ao redor, mato. O primeiro lugar que fomos foi para a praia das estrelas, ainda na ilha Colon. Ônibus até Bocas del Drago e uma gostosa caminhada pela areia, contornando a ilha. Mas ao chegar lá tinha uma farofada, isopores, churrasquinho, barulho… Não tínhamos nos dado conta que era domingo, e tava meio piscinão de Ramos.

Também não demos muita sorte com o tempo lá, tirando o primeiro dia de sol, os outros estavam nublados e com bastante chuva.

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Logo na frente da ilha Colon, na ilha Bastimentos tem a praia Red Frog, local onde pode se hospedar ou simplesmente fazer um passeio. Com sorte vai ver estes sapos vermelhos. Se não conseguir ver, terão crianças te oferecendo para tirar fotos por uns trocados. Uma boa pedida para comer ou beber algo é o Bibi’s on the beach, na ilha Carenero, onde também tem um ótimos Surf. Acabamos não indo para Cayos Zapattilas, já que seu estilo é mais parecido como de San Blás.

Como para ir para as outras ilhas, para surfar ou qualquer programa tem que ir de taxi-barco, com chuva, não adiantava insistir muito e resolvemos seguir viagem. A fronteira de Saxiola, não esta muito longe. É possível pegar o barco de volta para o continente e fazer algumas conexões de ônibus ou acertar com um transfer/minivan direto. A pequena fronteira não é muito movimentada, e depois de atravessar a pé a antiga ponte com trilhos de trem, chegamos na Costa Rica.

Atravessando a ponte para a Costa Rica (carregando a mochila da Bibi também!)

Atravessando a ponte para a Costa Rica (carregando a mochila da Bibi também!)