As pessoas gostam de fantasiar e Cuba virou uma assunto onde as idéias e vontades das pessoas são transferidas para o país. Claro que a mídia tem sua culpa, seja ela a Carta Capital ou a Folha de São Paulo. Querem tornar a ilha em um lugar perfeito ou em um lugar terrível, quando na verdade está em algum lugar no meio disto, nada fantasioso, bem real.
Até ai tudo bem, tão querendo vender o seu peixe, mas triste é ver que as pessoas compram o pacote, e não perdem tempo para raciocinar, pensar sobre o assunto.
Vejo muitas discussões onde a “classe média alta ” brasileira, aqueles ricos que tem salários para ser elite em qualquer lugar do mundo dizem: “Se Cuba é bom, se mude para lá”.
Pode ter certeza que para milhões de pessoas Cuba daria uma condição de vida muito melhor do que elas tem. Tudo é uma questão de parâmetro Milhões de pessoas no mundo tem salário parecidos com os cubanos, mas não tem nenhum auxilio, educação, saúde, cultura, moradia ou até a livreta para uma semana de comida. Isto não torna a vida lá menos difícil.
Os EUA queriam ser donos de Cuba, tentaram colonizar, comprar, invadir, instalaram ditadura, fizeram atentados mas não conseguiram. Existem duas levas de imigrantes cubanos nos EUA. Os que saíram na Revolução, e os que foram saindo depois, por questões econômicas Os contra revolucionários só voltariam para Cuba com outro governo/sistema. Mas o sonho da imensa maioria de cubanos que vivem no exterior, é de se aposentar com salários em dólar e voltar a viver em Cuba ,mesmo da forma que está. Encontramos diversos cubanos que moram no exterior de férias na ilha, curtindo e viajando com a família, loucos para chegar a hora de voltar.
Se as taxas de analfabetismo, mortalidade infantil e expectativa de vida dão inveja a qualquer outro país das Américas, ficando somente atrás do Canada, os comunistas não podem se vangloriar disto. O cubano tem que se virar para sobreviver, conseguir dinheiro, empreender, receber dinheiro do exterior. Só com o sistema do governo isto não seria nem perto de possível. Existe um senso comunitário, onde todos se ajudam, mas também existe um capitalismo forte, onde para cada pequeno serviço ganha-se um dinheirinho. Isto se chama “lucro”. Agora com as empresas privadas, direito não só de ter, mas de se vender as propriedades, Cuba vai se afastando rapidamente do que sobrava do comunismo. Vai se tornando apenas Cuba, sem os preconceitos criados de quem é a favor ou contra algo.
O poder é centralizado, e isto nunca é bom, mesmo se tiver o apoio da maioria, pois a minoria vai se sentir oprimida e um país deve ser para todos. Os fantasmas da Guerra Fria devem ser esquecidos, e a liberdade de expressão é algo básico em qualquer sociedade. A violação dos direitos humanos não são aceitáveis nem em período de guerra, portanto as ameaças a Cuba não são nenhuma desculpa.
As disputas sobre o tema “Cuba” São muito chatas, vide a blogueira Yoani Sanches. Perguntei sobre ela diversas vezes em Cuba, e só faltavam falar: Yoani quem? Ela não representa quase nada em Cuba, nem para o bem nem para o mal, enquanto aqui ela se torna heroína ou vilã.
Não é em uma curta viagem que se vai entender Cuba, tão pouco morando lá. Vale a mesma verdade que me falaram sobre o Oriente Médio, o certo e o errado não está dividido por uma linha fina, mas por uma longa faixa, e Cuba está nesta faixa.
A resposta para a pergunta do titulo é óbvia, nem céu nem inferno, simplesmente terra, com todas suas qualidades e imperfeições.
Para pesquisar:
* Com poucas publicações em português, vale a pena ler sobre René Gonzales e cia (Cuban Five). Antes de ir para Cuba tinha lido somente um livro a respeito “Os últimos soldados da guerra fria”, mas lá tem diversos livros e até museu.
* De uma maneira geral, pessoas ligadas ao turismo de luxo falam mal do sistema para que se comovam e deem uma gorjeta maior.
* De uma maneira geral, pessoas ligadas ás casas particulares e paladares conseguem uma licença por terem bons contatos, e não querem perder esta oportunidade. Tendem a falar bem do governo.
* Se tem curiosidade sobre a Yoni Sanchez, leiam a entrevista que o professor da Sorbone-França, Salim Lamrani fez com ela.
* Outros grupos de oposição cubana: Damas de Branco, Oswaldo Paya (morto ano passado) e o MCL, Oscar Elias Bicet…
* Grupos terroristas anti-castro em Miami: Omega 7, Brothers to the Rescue , Alpha 66…
* Vale pesquisar diretamente os dados da ONU, Unicef, Organização internacional de direitos humanos…